Roteiro por Hiroshima: conhecendo a cidade

A cidade da reconstrução e radiação apenas de amor!

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Neste roteiro por Hiroshima (広 島), conhecemos a cidade que infelizmente é mundialmente conhecida por um triste fato: em 6 de agosto de 1945 foi alvo da primeira bomba atômica.

Lançada estrategicamente sobre a cidade – a princípio – como um teste.
Afinal, nem os americanos criadores tinham noção exata do seu poder.

Planejando sua viagem?

Confira nosso completíssimo roteiro ao Japão, um guia com dicas sobre as principais cidades e pontos turísticos!
Veja também passeios pra fazer de graça em Tokyo e quanto custa para viajar à terra do sol nascente!

Descubra a melhor época para viajar pra cá e por fim, recomendamos ler tudo o que você precisa saber antes de vir ao Japão sobre vistos, câmbio, hospedagem, transporte local, segurança, barreiras do idioma, etc.

Sem dúvida muitas pessoas relatam uma certa tristeza ao visitar a cidade.

Porém, confesso que minha impressão foi totalmente diferente (fora a espetacular ilha sagrada de Miyajima).

Acima de tudo eu enxerguei: superação, reconstrução, dedicação e amor!

Afinal, quem seria capaz de transformar Hiroshima no que é hoje, depois da bomba devastar quase dois quilômetros ao redor do seu epicentro?

Os dedicados japoneses, é claro!

Antes de mais nada, acreditamos que 2 dias são suficientes para conhecer a cidade juntamente com Miyajima, caso o tempo esteja curto.

Roteiro por Hiroshima: a reconstrução

Contudo, muitos relatos dizem que mesmo com as escolas destruídas, as aulas continuaram em Hiroshima ao ar livre um dia após o ataque!

Ou seja, a educação sempre foi a base japonesa.

Agora em 2017, vi estas pequenas indo pra escola numa das grandes avenidas de Hiroshima.
Outro fato chocante para nós brasileiros: a segurança.

As crianças pequenas vão em duplas para a escola (pelo menos).

Enfim, sem a supervisão de um adulto. Uma cuida da outra.

Pequenas estudantes indo para a escola em Hiroshima no Japão
Pequenas estudantes indo para a escola em Hiroshima no Japão

Aliás, os uniformes e chapéus ajudam a identificar mais facilmente os estudantes.

Principalmente os menores carregam no pescoço um apito e o tocam caso algum estranho faça uma aproximação má intencionada.

Bomba atômica e a guerra: superação

Em conclusão, esta não é uma história para ser esquecida.

Antes de mais nada é para ser superada e aprendermos com ela para NUNCA MAIS repetirmos estes atos covardes.

Inclusive, durante a II Guerra Mundial os Estados Unidos desenvolveram o Projeto Manhattan:
pesquisas para criação de um armamento poderoso sob a fissão do átomo.

Muitos europeus de países que já tinham perdido a guerra, estavam também neste projeto que inicialmente tinha a Alemanha como alvo.

Um primeiro teste desta bomba já havia sido realizado no deserto de Alamogordo no Novo México (EUA).

Então, os Estados Unidos propuseram ao Japão uma rendição.
Porém, o Japão não aceitou e o resultado disto todos sabem.

Roteiro por Hiroshima: jardins do castelo
Roteiro por Hiroshima: jardins do castelo

Em 6 de agosto de 1945 foi lançada a bomba atômica de urânio sob Hiroshima, que explodiu a 570 metros do chão.

Uma imensa bola de fogo se formou no céu com uma temperatura maior do que 300.000 graus celsius que gerou a imensa nuvem no formato de cogumelo, esta nuvem alcançou mais de 18 km de altura.

O resultado da bomba chamada de “little boy” lançada pelo bombardeiro B-29 apelidado de Enola Gay (que ninguém sabia o poderio até então) foi a devastação de mais de 2 km de área terrestre, causando a morte de 70.000 pessoas instantaneamente.

O número total de vítimas com a radiação fez este número aumentar para mais de 200.000.

Posteriormente também houve uma bomba lançada sobre Nagasaki, mais poderosa ainda.

Porém, erros de cálculo para determinar o alvo a fizeram atingir uma área montanhosa (causando mesmo assim milhares de mortes).

O Japão – através do seu Imperador – assinou a rendição em 2 de setembro de 1945.

O que aprendemos com a Segunda Guerra Mundial?

É difícil falar que houve algum aprendizado com um fato que dizimou milhares de pessoas em todo o mundo.

Mas, podemos dizer que foi o último ato de destruição em massa.

Com minha visita ao Japão, entendi que também se aprende com a dor.

É incrível a devoção, dedicação e superação dos japoneses.

Um povo que tinha de tudo para aderir ao coitadismo, e pelo contrário, tornaram-se uma potência mundial!

É um povo que tem orgulho do que faz.
Seja qual for a área, o japonês entra pra fazer o melhor!

Desde o atendente de uma lojinha até o presidente de uma empresa.

Você como cliente ou como turista percebe o prazer em ser bem recebido.

Ao adentrar um comércio no Japão, você é recebido pela frase:
Irasshaimase” (いらっしゃいませ).

Por TODOS os funcionários. TODOS!
Em tradução livre, Irasshaimase significa “Bem vindo” ou “Prazer em recebê-lo.

Era nítida a satisfação em lhe atender bem no Japão.

Apesar de óbvio, afinal, cliente feliz se torna fiel.
Volta sempre, gasta mais e fica bom pra todo mundo.

Num mercado cheguei até a ficar sem graça, porque todo funcionário que cruzava comigo cumprimentava-me com um Irasshaimase.

E isso foi um choque, porque tinha acabado de vir do Brasil, onde a área de serviços em geral sofre.
Alguns atendentes são trabalhadores temporários que estão esperando uma oportunidade para migrar para outra função.

É lógico que existem exceções e já fui muito bem tratado aqui.
Mas, confesso que é rara exceção.

Já perdi a conta da quantidade de vezes que no Brasil chego a uma caixa de supermercado, dou um boa noite e como resposta recebo uma bela cara emburrada ou ouço a pessoa se lamentando de quanto tempo falta pra encerrar seu expediente!

A excelência japonesa

No Japão há um orgulho.
Estou aqui para fazer o meu melhor!

Recebo o meu salário e vou fazer de tudo para tornar sua experiência na minha loja o melhor possível!

E isso funciona!
Eu AMO ouvir Irasshaimase toda vez que entro num comércio ou casa de lamen.

Sua experiência começa boa desde a porta de entrada!

 

Roteiro por Hiroshima: a cidade

Bom, voltando ao assunto do tópico, vamos falar de Hiroshima!

Uma cidade que tinha recebido o título de inabitável devido à radiação, hoje abriga mais de um milhão de habitantes.

Desde a nossa chegada, achei a cidade organizada e encantadora!
A reconstrução da cidade foi muito bem executada.
É um lugar com muitos canais e várias pontes.

Uma das principais pontes da cidade inclusive foi o alvo da bomba atômica, para cercar a população e seu exército.

Alguns monumentos que haviam sido destruídos foram reconstruídos.
Como é o caso do Castelo de Hiroshima que também visitamos.

 

Roteiro por Hiroshima: o bondinho

Um meio de transporte muito comum para circular pela cidade é o bondinho, também chamado de tram.

Símbolo da resignação, voltou à circulação 3 dias após o ataque da bomba atômica!

Até hoje a linha e os bondes cinza, verde, azul e marrom estão em circulação em Hiroshima, já são mais de 70 anos de história.

Tram - Bondinho de Hiroshima em circulação a mais de 70 anos!
Tram – Bondinho de Hiroshima em circulação a mais de 70 anos!

E não é um transporte apenas turístico.
Encontramos vários executivos indo ao trabalho nestes bondes!

O baixo custo também ajuda a explicar esta adoração.

Você sobe no bonde e desce em qualquer estação atendida por ele, por apenas ¥ 160.

Usar o bonde de Hiroshima é um pouco diferente.
Você sobe pelas portas centrais e desce pela dianteira/traseira.

O pagamento do bonde é feito por você mesmo na hora de descer. Basta depositar as moedas no caixa.
Mas, cuidado porque o pagamento automático não dá troco. Então dentro do bonde tem outra caixa também automática que você coloca uma cédula de yen e ela te devolve tudo em moedas!

One-day pass

Outra opção é comprar o passe diário (one-day pass) que custa ¥ 600 e você pode usar livremente o dia inteiro, eles são vendidos em todas as estações.

Na saída do nosso hotel  vimos este bonde todo estilizado e comemorativo:

Roteiro por Hiroshima: o bondinho
Roteiro por Hiroshima: o bondinho

Uma das nossas primeiras paradas com o bonde, foi o parque do Memorial da Paz.

 

Parque Memorial da Paz de Hiroshima

Primeiramente, um lugar que não pode faltar no roteiro por Hiroshima é o Peace Memorial (広島平和記念碑 Hiroshima Heiwa Kinenhi), um parque construído no local onde foi lançada a criminosa bomba atômica.

Em alguns lugares você verá a inscrição em japonês:

Descansem em paz.

Nós nunca repetiremos o erro.

Há dezenas de esculturas, edificações e obras que remetem à paz do pós guerra neste parque.

É um passeio que pode levar horas e horas, onde você aproveita para refletir sobre o ocorrido e como a vida é realmente um sopro.

Roteiro por Hiroshima: uma das pontes alvo da bomba atômica
Roteiro por Hiroshima: uma das pontes alvo da bomba atômica

O principal destaque é o A-Bomb Dome (原爆ドーム Genbaku Dōmu), a cúpula da bomba atômica.

Em 1996 foi reconhecida como Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO (vejas outros que já visitamos).

É a única construção que resistiu ao ataque no seu epicentro e até hoje está preservada.

Muitos imaginam que ela era uma construção militar, mas na verdade era um edifício da Prefeitura de Hiroshima relacionado ao conglomerado das indústrias e construído em 1915.

A-Bomb Dome em Hiroshima
A-Bomb Dome em Hiroshima

Todos os anos, em 6 de agosto, precisamente as 08:15 hs (momento exato da detonação) é realizada uma cerimônia com um minuto de silêncio em homenagem as vítimas da bomba atômica.

Detalhes da cúpula do Atomic Bomb Dome em Hiroshima
Detalhes da cúpula do Atomic Bomb Dome em Hiroshima

O Japão faz um trabalho recorrente de manutenção para manter este edifício em pé, corrigindo infiltrações e fazendo tratamento com resina.

É um importante símbolo da resistência.

 

Muito além do Bomb Dome

Na mesma praça, visitantes também são convidados para tocar o Sino da Paz.

Chegamos no mesmo momento de uma excursão, e os estudantes balançaram juntos o grande pendulo que batia no sino, resultando num relaxante som:

Roteiro por Hiroshima: Sino da Paz
Roteiro por Hiroshima: Sino da Paz

Ao circular pelo parque, encontramos vários senhores e voluntários que contavam a história da guerra em vários idiomas.

O acesso ao parque é totalmente gratuito, apenas é cobrada entrada para visitar o museu da paz.

Como chegar ao Parque do Memorial da Paz

Utilize o bondinho e desça na estação Genbaku-Domu Mae.
É uma viagem de 15 minutos a partir da Hiroshima Station.

Dias e horário de funcionamento:
Parque: todos os dias, 24 horas por dia
Hiroshima Peace Memorial Museum: todos os dias, 08:30 hs a 18:00 hs

Taxa de visitação:  
Parque: totalmente gratuito
Hiroshima Peace Memorial Museum: ¥ 200

 

Hiroshima-jo: o Castelo de Hiroshima

Caminhamos para as proximidades do Castelo de Hiroshima (広島城, Hiroshimajō) num lindíssimo dia de sol.

O céu de Hiroshima é surreal e fantástico.
Em todos os dias da minha visita fiquei impressionado.
As nuvens são diferentes. É difícil achar uma palavra para descrever.

Também conhecido como o Carp Castle: Castelo da Carpa, foi construído em 1589!

Porém, foi destruído pela bomba atômica e posteriormente reconstruído.

Logo na chegada conhecemos o Ninomaru, esta belíssima casa de guarda e segundo círculo de defesa.

Todo o terreno é protegido por um fosso que rendeu este belo reflexo:

Ninomaru - A casa de guarda do Castelo de Hiroshima
Ninomaru – A casa de guarda do Castelo de Hiroshima

Assim como foi comum em alguns lugares que visitamos no Japão, o lugar estava passando por pequenas reformas.

Por este motivo, decidimos não entrar e seguir nossa viagem!
O exterior do Castelo de Hiroshima já pagou a visita, é impressionante!

O Castelo de Hiroshima
O Castelo de Hiroshima

Muito próximo ao castelo (10 minutos de caminhada) vale a pena conhecer o Shukkeien Garden, também conhecido por “shrunken-scenery garden”. Um jardim com montanhas e florestas em miniatura.

Outro marco da cidade é o Mazda Museum, localizado até hoje no mesmo lugar da criação da empresa em 1920.

Lá existe um museu com vários carros antigos, que infelizmente não visitamos porque já estávamos de partida para a incrível ilha de Miyajima.

Roteiro por Hiroshima: saída do Castelo de Hiroshima
Roteiro por Hiroshima: saída do Castelo de Hiroshima

Como chegar ao Castelo de Hiroshima

Caso esteja com o bondinho, desça na estação Kamiyacho-nishi ou Kamiyacho-higashi.
O castelo também está a uma caminhada de dez minutos do Shukkeien ou do Parque da Paz.

Dias e horário de funcionamento:
Todos os dias
09:00 hs a 17:30 hs (de abril a setembro)
09:00 hs a 16:30 hs (outubro a março)

Taxa de visitação:  
¥ 370 (para entrar no castelo)
O jardim e os arredores são totalmente gratuitos.

Veja também o site oficial do Castelo de Hiroshima.

 

A lenda dos 1000 tsurus

Para entender a lenda dos tsurus (origamis), faço um resumo da história de Sadako Sassaki (que possui uma estátua em sua homenagem no Parque da Paz).

Sadako era uma criança sobrevivente da bomba atômica que nunca perdeu sua ternura e não faltou nenhum dia na sua escola primária.

Chegou a tornar-se atleta no ensino médio, mas viu sua saúde diminuir com uma leucemia aos 12 anos de idade. Seus amigos então, fizeram 1000 origamis/tsuru no formato de grou (uma grande ave).

Os 1000 grous em papel colorido (um pássaro que se assemelha a uma cegonha ou uma garça) enfeitaram o quarto de Sadako e então lhe foi dita a lenda:
“Se fizer 1000 grous de papel, seu desejo se tornará realidade”

Aliás, ainda cheia de esperança, ela começou a dobrar os origamis.
Então passava noites com dor e febre, dobrando seus tsurus na esperança de sobreviver.

Por certo, muito fraca, infelizmente não teve forças para dobrar seus mil pássaros.
Faleceu aos 12 anos, dez anos depois da explosão da bomba atômica.

Seus amigos da escola dobraram os tsuru que faltavam para que fossem enterrados com ela.

Desde então, é muito comum ver tsurus por todo o Japão e especialmente em Hiroshima.

Por fim, aqui vimos esta homenagem na calçada de um famoso hotel nos arredores do parque:

Roteiro por Hiroshima: A lenda dos 1000 Tsurus
Roteiro por Hiroshima: A lenda dos 1000 Tsurus

Ao invés de guerra, vimos momentos de muita paz e aprendizado na visita.

Em conclusão, é sabido que a guerra tira o discernimento da pessoas.

Aliás, o lado japonês também estava fora de controle, você conhece a história do americano que foi enjaulado no Zoo de Ueno?

 

Okonomiyaki – O prato mais típico de Hiroshima

Primeiramente, não deixem de provar o Okonomiyaki!

Apesar de ser encontrado em todo o Japão, é aqui que ele teve sua origem e onde dizem ser feito o mais gostoso de todos (há uma certa briga com Osaka e Kyoto)!

Okonomi significa “o que você quer / gosta” e yaki significa “grelhado / frito”.
Ou seja “cozinhar aquilo que você gosta da maneira que você deseja”!

Então, nós fomos até o Hassei, o restaurante mais recomendado em Hiroshima!

Desse modo, pegue um lugar no balcão e ele será preparado e servido numa chapa na sua frente.

Roteiro por Hiroshima: Okonomiyaki - o prato mais típico
Roteiro por Hiroshima: Okonomiyaki – o prato mais típico

No final, vira quase uma pizza ou uma panqueca com vários ingredientes: macarrão, ovos, bacon, repolho, algas, cogumelos e regado com boas doses de molho.

Certamente o visual não é tão recompensador quanto o seu incrível sabor.. risos

Além disso, os preços são muito bons.
Você vai pagar por volta de ¥ 700 (R$ 21,00 em 2018) neste grande prato de okonomiyaki!

Do mesmo modo, são várias opções e combinações, é possível montar até um vegetariano.

 

Como chegar na cidade de Hiroshima no Japão?

Viemos diretamente de Tokyo com o Shinkansen Nozomi / Kodama (trem bala).

Aliás, a distância entre Tokyo e Hiroshima é de 810 km.
Mas a viagem leva em torno de 5 horas por incríveis paisagens.

Então, leia em Saiba TUDO sobre o Japan Rail Pass, como economizar nesta viagem.

Outras cidades próximas:
– distância entre Hiroshima e Osaka: 330 km
– distância entre Hiroshima e Kyoto: 360 km

Por fim, confira também o mapa da região central da cidade.

Obrigado Hiroshima, por tudo que nos ensinou!

Sem dúvida, vocês serão um exemplo que carregaremos para toda vida!

Roteiro por Hiroshima: Arigatou gozaimasu, Hiroshima!
Roteiro por Hiroshima: Arigatou gozaimasu, Hiroshima!

Arigatou gozaimasu! (obrigado)

 

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1 comentário
  1. Marcia Yumi Kishino Diz

    Hiroshima – Grande Ilha.
    Chegamos ao cair da noite em Hiroshima.
    Tão logo se desembarca na estação JR da cidade, ao dar uma rápida caminhada, o asfalto se transforma em ponte. Ponte bonita, cheia de detalhes. Ponte que liga, ponte que une ! E abaixo, alheio a bicicletas, carros e pessoas corre o rio Ota. Rio este que se abre em seis canais e divide a cidade em grandes ilhas, em “Hiroi (largo, grande) Shima (ilha)”.
    A imagem daquele gigante cogumelo de fumaça cinza é mundialmente famoso. Mas passados 74 anos, o manto negro deste fatídico dia é colorido pelas luzes de neon das agitadas ruas da cidade e a única coisa superaquecida é a chapa, rodeada por alegres locais, onde são preparadas os mais deliciosos okonomiyakis do Japão ! A única explosão que lá ocorre hoje é de sabor e gargalhadas regadas com muita cerveja e highball (uma dose de bebida alcoólica e uma maior de não alcoólica, no Japão geralmente wisky e água gaseificada.)
    A luz do dia revela a cidade. Uma cidade como tantas outras, numa manhã qualquer . Centenas de trabalhadores se apressam para seus respectivos ofícios, crianças para as escolas, os ônibus passam transportando habitantes de uma lado a outro e os bondinhos seguem seu itinerário rotineiro …
    Subimos em um desses bondinhos. Bondinhos que reiniciaram suas operações no dia seguinte a explosão da bomba atômica! Percorremos as ruas bem cuidadas da cidade, avistamos algumas pontes, testemunhamos o rio seguindo seu curso, cachorros passeando às suas margens. O que vimos através da janela foi uma cidade que progride sem apelos ou vitimismo, que não faz alusão a um passado tão trágico.
    Chegamos ao nosso destino. Adentramos a Praça do Memorial da Paz. Um lugar repleto de turistas que inicialmente observam as ruínas protegidas por um cercado, depois se calam introspectivos, por fim se sentam, e ali permanecem por alguns instantes e somente aí retomam sua alma turística e se apressam a encontrar os melhores ângulos para suas fotografias. No parque anexo centenas de árvores que resistem verdejantes, outras já se renderam ao outono e exibem suas copas amarelecidas ou alaranjadas. E lógico, há uma linda ponte e o rio para completar o cenário. Há muitas crianças também, barulhentas e agitadas em seus uniformes escolares num dia de excursão. Afinal olhar para a frágil e resiliente estrutura do Memorial da Paz, única testemunha a resistir à explosão, provavelmente é exercício obrigatório para todo cidadão japonês.
    Optamos por não visitar o Hiroshima Peace Memorial Museum, pois imaginar que árvores, prédios, pessoas e tudo que havia ao redor daquela estrutura foi destruído, já foi uma experiência suficientemente impactante.
    Decidimos finalizar o dia com uma visita ao Castelo de Hiroshima. Enquanto esperávamos o semáforo abrir, abordei um senhor. O escolhi dentre tantas outras pessoas porque estava com sua bicicleta, e isso me sinalizou que ele era um local e poderia me ajudar quanto à localização do castelo. Ele me pareceu mais tímido do que um japonês normalmente seria, não conseguia se expressar direito, e eu me senti incomodada por tê-lo tirado de sua zona de conforto. O sinal verde sinalizava que deveríamos andar, e eu ainda não sabia exatamente para onde ir. O senhor, simplesmente, desceu de sua bicicleta, se posicionou a frente e nos lançou um olhar. Nós simplesmente o seguimos. Nos deixou na entrada de uma espécie de túnel para pedestres e retomou seu caminho. Quanta generosidade, quanta disponibilidade para nos ceder um tempo de sua vida para nos ajudar !
    Ao final do túnel já avistamos o fosso que protege todo castelo japonês. O castelo é simples, mas imponente e lindo !
    Era chegada a hora de encerrarmos nosso passeio em Hiroshima. Para chegar na estação obrigatoriamente teríamos que passar pela ponte e pelo rio do início do passeio. Entretanto “Nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio … pois na segunda vez o rio já não é o mesmo, nem tão pouco o homem! (Heráclito de Efesa)”. E com certeza, assim foi.